A espera acabou! O primeiro dia do 7º Congresso Nacional de Clínicas de Vacinas foi repleto de assuntos interessantes para os profissionais de saúde, pesquisadores e empresas do setor.
Marcos Tendler, membro do Conselho de Administração da ABCVAC abriu a edição de 2024. Sob o tema ‘Maximizando as oportunidades de vacinação’, Tendler reforçou o compromisso da associação em expandir o acesso e a eficiência dos programas de vacinação.
Além disso, o conselheiro reforçou o objetivo do CCV em oportunizar o conhecimento sobre o cenário atual e o futuro da imunização para a indústria, clínicas, fabricantes de insumos e demais profissionais de saúde.
A importância do setor privado para o PNI – Programa Nacional de Imunizações
Com a missão de iniciar a rodada de conteúdos, Eder Gatti, Diretor do Departamento do Programa Nacional de Imunizações da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde (DPNI/SVSA/MS), apresentou dados sobre a importância da parceria entre os setores público e privado para o Programa Nacional de Imunizações (PNI).
Gatti frisou o compromisso do governo federal na inclusão da imunização como prioridade, haja visto que desde 2016 os percentuais de cobertura vacinal das doenças vigiadas pelo programa vêm caindo.
As ações e investimentos do Ministério da Saúde estão focadas na adesão das vacinas. De acordo com o diretor, os investimentos de vacinas de rotina do PNI em 2024 devem alcançar R$ 5.570.995.094,10, ante R$ 4.334.132.137,26 investidos em 2018.
Gatti também abordou a necessidade de monitoramento contínuo, avaliação dos determinantes de transmissão de doenças, e a importância de sistemas de informação integrados para diagnósticos precisos e intervenções oportunas.
Outro ponto crucial foi o esforço para otimizar a estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS), especialmente através da intensificação de campanhas e do microplanejamento, como evidenciado na aplicação intensiva de vacinas contra a febre amarela no Rio Grande do Norte em abril de 2023, e em regiões como Amazonas e Acre.
Para enfrentar a complexidade dos sistemas de informação, Gatti mencionou a Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) e iniciativas como o Localiza SUS e a caderneta digital, que buscam integrar e melhorar a disponibilidade de dados entre o setor público e privado.
Os números do mercado brasileiro de vacinação
Marcelo Melleti, Diretor Sênior de Soluções Hospitalares LATAM da IQVIA, trouxe uma visão abrangente do mercado brasileiro de vacinação.O mercado de vacinas, com um aumento de 35% em 12 meses. Esse crescimento é impulsionado pela introdução de produtos inovadores e novos fabricantes, além da retomada de políticas públicas focadas em imunização.
No setor privado, notou-se um crescimento de dois dígitos em vários estados, com destaques para vacinas como dengue, HPV, herpes zoster (HZ) e pneumocócicas.
Melleti também afirmou que os fabricantes estão aumentando seus investimentos promocionais de maneira substancial, com um valor estimado de mais de R$ 70 milhões direcionados em 2023 para fortalecer o relacionamento com a classe médica. Este foco em promover novos produtos e fortalecer parcerias é uma oportunidade crucial para as clínicas de vacinação capitalizarem.
Melleti também apontou para o futuro do mercado de vacinas, com a pesquisa de 366 vacinas diferentes em desenvolvimento, indicando uma ampla variedade de novos produtos que podem impactar positivamente o mercado nos próximos anos.
O investimento do governo federal em campanhas de vacinação é fundamental para aumentar a conscientização e a adesão da população, sendo um dos principais impulsionadores para a proteção contra doenças.
Para as farmácias, a vacinação representa uma oportunidade de expandir seus serviços aos pacientes e melhorar suas margens. Compreender e acompanhar a evolução dos pacientes é essencial para garantir uma maior adesão aos tratamentos, transformando a vacinação em uma oportunidade estratégica de crescimento.
Esses pontos enaltecem não apenas o crescimento dinâmico do mercado de vacinas no Brasil, mas também as oportunidades significativas para inovação, colaboração e expansão nos próximos anos.
Círculo de Debate – Tendências e inovações na vacinação
O debate Tendências e Inovações na Vacinação foi moderado pela Manoela Albuquerque – editora de Saúde da MIT Technology Review Brasil, e contou com a participação de Gustavo Sanches, CBL de Vacinas da Pfizer e Vagner Pin, Diretor Comercial, Fernando Cerino, Diretor da BU de Vacinas da MSD, Gil Araujo, Diretor Comercial Farma da GSK, Mônica Marasca, Diretora de Vendas da Sanofi e Hubert Guarino, Diretor Geral Diagnósticos Rápidos.
Em linhas gerais, o debate enalteceu que a ‘vacina boa, é vacina no braço!’ Foram debatidos avanços tecnológicos, inovações no campo da vacinação, desafios persistentes, como a desinformação, apoio dos meios de comunicação e protocolos para utilização de dados.
Pontos chave e reflexões interessantes
Tecnologia mRNA e agilidade na produção de vacinas: a tecnologia mRNA mostrou-se crucial durante a pandemia, permitindo à Pfizer desenvolver e aprovar uma vacina em menos de 250 dias. Isso destaca a capacidade de adaptação rápida às novas variantes do vírus, além de flexibilidade e agilidade essenciais para ajustar as vacinas às cepas emergentes. Sobre Covid, Monica reforçou que do ponto de vista regulatório, o covid certamente ajudou no quesito agilidade.
Desafios da desinformação e conscientização: a desinformação e as fake news continuam a ser grandes desafios. A pandemia destacou a importância da indústria farmacêutica e das clínicas na educação pública e na promoção da vacinação. É cada vez mais urgente a abordagem unificada entre os laboratórios, e como afirmou Gustavo Sanches, da Pfizer, “vacina boa é vacina no braço”. Gil Araújo, da GSK, lembrou ainda do poder da imprensa na informação séria, afirmando que “a importância da mídia nessa conscientização é poder!”
Acesso a vacina: Além da conscientização, Monica Marasca da Sanofi, lembrou que o acesso a vacina é uma questão importante, haja visto o tamanho do nosso território. Temos clínicas, mas elas não estão cobrindo o Brasil inteiro. Guarino também completou, “obviamente que todo o esforço precisa de conscientização mais forte, mas precisamos estar alertas a todos os fatores que podem dificultar a vacinação”. E concluiu este tópico, questionando, “se não se aplica a vacina, quem assume o custo?”
Uso de dados e tecnologia: dados centralizados são eficientes e melhoram a cobertura vacinal e facilitam a administração eficiente de doses. O uso ético e eficaz dos dados é crucial para melhorar a lembrança de vacinação e personalizar os cuidados de saúde.
Desafios futuros e inovação contínua: para o futuro, o principal desejo é termos condições de responder rapidamente a picos epidêmicos e desenvolver novas vacinas para necessidades que ainda podem não ser atendidas. A diretora da Sanofi reforçou que os planos de saúde estão estrangulados e mais do que nunca, a vacina é um grande negócio e as clínicas são porta de entrada para as novas tecnologias.
Parcerias Público-Privadas: a colaboração entre setor público e privado é essencial para trazer novas tecnologias e expandir o acesso às vacinas. Iniciativas conjuntas podem acelerar o desenvolvimento e a distribuição de vacinas, beneficiando a população de forma mais ampla. Sobre este assunto, Guarino ainda reforçou a parceria recente entre a Valneva e o Instituto Butantan, que já têm um acordo firmado para o desenvolvimento, fabricação e comercialização da vacina contra a Chikungunya no Brasil.
Por fim, Vagner Pin, provou a plateia, lembrando que nunca vai se esquecer de ter visto embalagens da vacina Pfizer no auge da pandemia de covid-19 em aldeias indígenas, e lembrou que “quando se planeja, se acompanha, se está junto e com o uso da informação, a gente é capaz de fazer”.
Gustavo encerrou o papo, lembrando que o mundo ideal é o da prevenção. “Que possamos usar as vacinas pra evitar que alguém que a gente ame morra por causa de uma vacina que já existe”.
Bate-papo com a indústria – Pfizer
Neste momento, o Dr. Daniel Jarovsky e a Fernanda Matsuy, especialista em Vacinas Pfizer, conduziram um painel sobre o panorama atual em doenças respiratórias no Brasil. Durante o bate-papo, Jarovsky abordou diversos pontos relevantes, entre eles, alguns aspectos-chave:
- Covid-19: houve uma discussão sobre a fase pós-emergencial da Covid-19, destacando a importância da vigilância genética das linhagens do Sars-CoV-2. Mesmo nos cenários mais otimistas, a Covid-19 ainda apresenta taxas de mortalidade superiores à influenza.
Para as vacinas de ácido nucleico – mRNA mensageiro, essencial para a rápida resposta e desenvolvimento de vacinas, como no caso da vacina contra a Covid-19 da Pfizer. - Vírus Sincicial Respiratório (VSR): o VSR foi destacado como uma preocupação significativa, especialmente para crianças, já que quase todas são infectadas até os 2 anos de idade. Adultos mais velhos também são vulneráveis, com risco elevado de infecção e potencial para reinfecções ao longo da vida.
A Pfizer planeja lançar uma vacina contra o VSR destinada a gestantes, que passa anticorpos maternos para o feto através da placenta. A nova imunização também será destinada aos idosos.
- Meningite Pneumocócica: Houve menção aos desafios atuais relacionados aos sorotipos mais resistentes da Meningite Pneumocócica. A vacina Pneumo 20 foi citada como uma resposta recente que amplia a proteção contra os sorotipos mais prevalentes.
Esses tópicos indicam um compromisso contínuo da Pfizer em enfrentar desafios significativos de saúde pública, enfatizando desta forma, a importância da imunização em diferentes faixas etárias, incluindo gestantes e idosos, para proteger a saúde globalmente.
Utilização de tecnologias digitais para melhorar a adesão a vacinação – Estratégias de tráfego pago e redes sociais para clínica de vacinação
Pedro Muniz, Co-CEO da Segredo Médico, apresentou estratégias muito interessantes para melhorar a adesão à vacinação utilizando o marketing digital. Ele começou destacando os desafios enfrentados pelas clínicas, revelando que 44% consideram a aquisição de pacientes como seu maior obstáculo. No que diz respeito às prioridades estratégicas, Muniz destacou que 73% das clínicas estão focadas em aumentar o faturamento, seguido por 64% que priorizam a aquisição de novos pacientes e 36% que se concentram na fidelização da base atual de clientes.
Numa era digitalizada e interconectada, Pedro reforça que é fundamental que as clínicas de vacinação entendam como alcançar seu público-alvo de maneira eficaz, destacando que as clínicas que adotam estratégias digitais não apenas sobrevivem, mas prosperam no mercado atual.
Pedro enfatizou o poder dos anúncios patrocinados na publicidade digital, citando benefícios como segmentação precisa, personalização, remarketing, e automação, incluindo o uso de inteligência artificial para otimizar campanhas.
Concluindo, ele mencionou tendências de busca, como um aumento significativo nas pesquisas por “clínica de vacinação perto de mim” e a prevalência de pessoas que buscam informações de saúde online antes de decidir por um tratamento ou clínica. Esses insights ressaltam a importância crescente das estratégias digitais não apenas para atrair e reter pacientes, mas para impulsionar o crescimento financeiro e a eficiência operacional das clínicas de vacinação.
Bate-Papo com a indústria – MSD
Alexandre Damasceno, Gerente de Marketing das Vacinas MSD, conduziu um painel super interessante destacando o compromisso e os avanços da MSD na conscientização da vacinação.
Com mais de 130 anos de experiência no desenvolvimento de vacinas, a MSD é pioneira, tendo licenciado as primeiras vacinas no mercado. Alexandre enfatizou que o engajamento dos adultos na vacinação é um desafio complexo, exigindo estratégias multicanal abrangentes.
O papel fundamental dos médicos foi sublinhado, especialmente em casos como a vacinação contra o HPV, onde a orientação profissional desempenha um papel decisivo na conscientização e adesão.
As campanhas da MSD foram destacadas por sua eficácia e inovação, incorporando histórias de pacientes reais e promovendo causas significativas. Iniciativas como as campanhas “Abrace uma Causa”, veiculadas em programas de TV voltados para mulheres e com influenciadoras, tiveram um impacto direto no aumento das taxas de vacinação.
Além das tradicionais campanhas do Outubro Rosa e Março Lilás, a MSD investiu em conscientização ao longo de todo o ano, colaborando com figuras públicas como Giovanna Ewbank para disseminar a importância da vacinação contra o HPV e a prevenção do câncer de colo do útero. A mensagem foi clara: “A vida pode ser ainda mais incrível para quem está vacinado contra o câncer.”
A estratégia da MSD incluiu uma forte parceria com influenciadores, que não apenas amplificaram as mensagens de saúde, mas também direcionaram pacientes para as clínicas.
Experiência do Paciente – Guiando com empatia e cuidado
Na penúltima palestra do dia, Meire Branco, Enfermeira Especialista e Sócia-Gestora e Proprietária da NacinVida – Espaço Vacinas e Saúde, enfatizou a importância da experiência do paciente no contexto da administração de vacinas, guiando com empatia e cuidado.
Meire destacou a necessidade de criar um ambiente empático e acolhedor para os pacientes, visando proporcionar uma experiência positiva. Isso inclui utilizar técnicas de comunicação eficazes, como a escuta ativa e a compreensão das necessidades individuais através de perguntas abertas.
A gentileza, paciência e cuidado nos detalhes foram citados como fundamentais para promover um ambiente acolhedor. Meire também ressaltou a importância do feedback dos pacientes, valorizando o serviço prestado e buscando constantemente melhorar a experiência do cliente.
Desvendando o labirinto fiscal – Estratégias de tributação, regimes tributários e precificação eficiente
Na última palestra do dia, Vinícius Lima, Sócio-Diretor da Diferencial Tributária e Dra. Hella Isis Gottschefsky, Advogada e Consultora Tributária, desvendaram as estratégias para um planejamento tributário eficiente.
A palestra destacou os desafios complexos que as clínicas de vacinação enfrentam no cenário tributário brasileiro. Diante deste cenário, é necessário garantir um planejamento tributário eficaz.
Entre as pautas mais importantes deste contexto, Vinicius e Hella abordaram o compliance tributário e os programas para adequação da conformidade fiscal.
A crescente demanda do governo para que as empresas conheçam seus riscos fiscais e adotem medidas para mitigá-los reforça a importância do compliance tributário. Além disso, a falta de conformidade pode levar a severas penalidades e comprometer a reputação da empresa.
Atualmente, existem 21.591 clínicas registradas no CNAE 8630-5/06 (Serviços de Vacinação). Em 2022, foram abertas 2.128 novas clínicas. Em 2024, até junho, já foram abertas 790 clínicas, mostrando um crescimento contínuo do setor.
Por falar em números, clínicas, hospitais, planos de saúde e farmácias acumulam uma dívida tributária total de 6 bilhões de reais. Este montante ressalta a importância de um planejamento tributário eficaz para evitar o acúmulo de dívidas e garantir a viabilidade financeira.
Em suma, cada empresa deve analisar cuidadosamente seus números e resultados para desenvolver estratégias tributárias que atendam às suas necessidades únicas.
Amanhã tem mais
O primeiro dia do 7º Congresso Nacional de Clínicas de Vacinas foi de completa imersão para os profissionais da saúde. A boa notícia é que não acaba por aqui. Amanhã tem mais.
A partir das 8h30 estaremos de volta com mais palestras e debates.