Esquema vacinal incompleto e fatores de risco podem agravar os casos da doença na população acima dos 60 anos
São Paulo, abril de 2022 — Mesmo com a quarta dose da vacina contra Covid-19 disponível para os idosos, a cobertura vacinal no Brasil está longe do desejado. De acordo com dados recentes do Ministério da Saúde, 75% da população brasileira entre 65 anos e 69 anos já tomaram a terceira dose da vacina contra Covid-19 e idosos acima de 70 anos com a primeira dose de reforço representam 80%. A adesão à imunização completa e a redução de alguns fatores de risco são fundamentais para evitar sintomas mais graves da doença.
Estudo1 brasileiro realizado por pesquisadores do Einstein e Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) e publicado pelo jornal científico inglês BMC Geriatrics avaliou a influência de doenças crônicas, comprometimento radiológico pulmonar e exames laboratoriais no risco de desenvolver insuficiência respiratória grave com necessidade de ventilação mecânica (intubação) e morte em idosos hospitalizados com Covid-19.
Os pesquisadores acompanharam 201 pacientes com mais de 60 anos desde o momento da internação (estudo prospectivo) e avaliaram os desfechos de insuficiência respiratória grave com necessidade de ventilação mecânica e mortalidade. Os dados de doenças crônicas, tomografia do pulmão e exames laboratoriais foram coletados nas primeiras 48h de internação e avaliados de forma independente para garantir que esses fatores possam interferir no desfecho clínico.
“Os resultados apontam que, dentre todos os fatores analisados, os níveis de vitamina D no sangue menores que 40ng/mL, anemia (hemoglobina menor que 12g/mL), proteína C-reativa (um marcador de inflamação) maior que 80ng/mL e comprometimento pulmonar maior que 50% na tomografia computadorizada foram preditores importantes e independentes para insuficiência respiratória grave e ventilação mecânica”, explica um dos autores da pesquisa, Alberto Frisoli Junior, médico geriatra do Einstein e professor da UNIFESP.
Por outro lado, os fatores preditivos de morte foram a presença de fibrilação atrial (um tipo específico de arritmia cardíaca), história de câncer e o aumento de uma das principais substâncias inflamatórias relacionadas à Covid-19, a interleucina 6. A anemia também foi preditora de morte, mas de forma menos intensa que os demais.
Dentre os participantes, 16,9% evoluíram para insuficiência respiratória com necessidade de ventilação mecânica. “Em contrapartida, o estudo demonstrou que níveis maiores que 40 ng/mL de vitamina D no organismo apresentam seis vezes menos chance de o paciente ser intubado”, esclarece Frisoli. Ainda não se sabe o motivo de isso acontecer, mas há evidências de que a vitamina D tenha um papel relevante para a imunidade, auxiliando no funcionamento adequado do sistema imunológico.
Referência:
1Chronic diseases, chest computed tomography, and laboratory tests as predictors of severe respiratory failure and death in elderly Brazilian patients hospitalized with COVID-19: a prospective cohort study. BMC Geriatrics