Levantamento mostrou que vacinação foi o melhor investimento em saúde durante a pandemia e traz evidências científicas sobre benefícios da imunização para a retomada das atividades 

Mensurar os efeitos positivos gerados pela vacinação durante a pandemia de COVID-19 é um dos objetivos do estudo “O impacto socioeconômico das vacinas durante a pandemia de COVID-19” encomendado à GO Associados pela Pfizer Brasil, considerando dimensões econômicas, sociais e sanitárias do país entre os meses de janeiro de 2020 até março de 2022.  

O levantamento estima que, para cada R$ 1 investido em vacina, gerou-se um impacto positivo no PIB (Produto Interno Bruto) de R$ 9. “Esse impacto demonstra que vacinar é o melhor investimento em termos de saúde pública”, explica Gesner Oliveira, professor da Fundação Getúlio Vargas e sócio da GO Associados, consultoria que conduziu o estudo.

Além disso, o estudo avalia que a vacinação em massa, em âmbito nacional, evitou, ao menos, 500 mortes por dia só nos primeiros quatro meses, a partir de fevereiro de 2021. “Lidar com todos os desafios da pandemia foi devastador, mas a vacinação trouxe a esperança. A divulgação desse estudo nos mostra, mais uma vez, a importância dos imunizantes como meio para proteção da saúde”, afirma Adriana Ribeiro, diretora Médica da Pfizer Brasil.

SOBRE O ESTUDO

Foi realizado um exercício econométrico para avaliar a relação causal do avanço da cobertura vacinal brasileira sobre a melhora de variáveis de interesse como mobilidade e letalidade do início da pandemia até março de 2022. “Os resultados da investigação evidenciam como a vacinação promoveu a retomada das atividades, incluindo a geração de trabalho e renda”, explica Gesner Oliveira, professor da Fundação Getúlio Vargas e sócio da GO Associados, consultoria que conduziu o estudo.

Dentre as conclusões, também se destacou a relação custo-benefício da luta contra a COVID-19. Do total de R$ 784,9 bilhões de recursos previstos entre 2020 e 2022 direcionados ao combate da pandemia, R$ 67 bilhões foram destinados à aquisição de vacinas e de insumos para prevenção e controle da doença. Dessa forma, os imunizantes representaram 8,55% do total, constituindo um dos itens de melhor retorno de investimento. “A vacina ajuda combater a pandemia sem machucar a economia”, resume Gesner.

Outros aspectos que o levantamento trouxe à tona foram o avanço desigual da vacinação no país, seja em termos regionais, seja por faixa etária – a imunização infantil ainda encontra resistência – e a importância das campanhas de incentivo à vacinação, ressaltando a necessidade de cumprimento do calendário e do esquema vacinal (doses de reforço), além do combate às fake news.

“A baixa cobertura vacinal que registramos atualmente nos coloca diante de um cenário preocupante. Precisamos mudar isso, antes que tenhamos o registro elevado de casos como de meningite, sarampo e até mesmo de poliomielite que ameaça retornar ao país, entre outras doenças que podem provocar condições graves, com sequelas irreversíveis”, afirma Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

CONSEQUÊNCIAS DA PANDEMIA E SUA DIMENSÃO ECONÔMICA 

O impacto econômico da pandemia levou o país a maior queda no PIB desde 1996 (início da série histórica do IBGE). O IPCA esteve dentro da meta em 2020 (4,52%), entretanto, estourou a meta em 2021 (10,06%).

O estudo também levantou dados das consequências socioeconômicas geradas pela pandemia, como aumento de desemprego, da violência, do nível de pobreza, a piora dos níveis educacionais, além de seus efeitos indiretos.

O desemprego bateu o recorde de 14,7% no primeiro trimestre de 2021. Estima-se que, em meados de 2021, cerca de 30% do total de trabalhadores ocupados tinha renda de até um quarto do salário-mínimo, de R$ 1.100,00. Em termos absolutos, entre 2020 e 2021, o número de pessoas com renda considerada muito baixa passou de 20,2 milhões para 24,5 milhões

A pobreza também aumentou: a renda per capita da população 10% mais pobre não superou os R$ 128 por mês, mesmo com auxílio emergencial, que foi a única fonte de renda em mais de 40% dos domicílios no Brasil. Estima-se que, até o final de 2020, ao menos 67,9 milhões de pessoas haviam sido beneficiadas diretamente com o Auxílio Emergencial, o que corresponde a um terço da população brasileira. Houve um crescimento da violência doméstica em razão do aumento dos níveis de estresse devido ao desemprego, incerteza financeira e a redução da renda, além do abuso de álcool e outras drogas.

A piora dos níveis educacionais será um reflexo que a sociedade terá que conviver a médio e longo prazo. O relatório da Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE) indica que o Brasil foi o país analisado que mais tempo manteve fechados os colégios durante a pandemia em 2020. De acordo com levantamento da Fundação Getúlio Vargas, o Brasil retrocedeu 15 anos na alfabetização de crianças em um cenário que já não era considerado ideal pelos especialistas. 

Efeitos indiretos da pandemia ainda acentuaram outras questões, como o aumento de índices de ansiedade e depressão, a redução de campanhas de prevenção e imunização de outras doenças e possibilitou o aumento da propagação de fake news. 

“Apesar dos impactos socioeconômicos negativos derivados da pandemia, dentre os países emergentes, o Brasil teve um dos maiores programas de combate ao novo coronavírus”, pontua Gesner. “O Governo Brasileiro tomou inúmeras iniciativas no sentindo de atenuar os custos da pandemia, mediante o auxílio-emergencial, apoio a micro e pequenas empresas, apoio à folha de pagamento, entre outras”, complementa.

COBERTURA VACINAL NO BRASIL 

O Brasil apresenta índices de vacinação maiores que alguns países desenvolvidos e que, inclusive, começaram a vacinação antes. Atualmente, quase 80% da população brasileira está imunizada com duas doses (ou dose única). 

As regiões Sul e Sudeste avançaram consideravelmente mais em suas campanhas de vacinação do que as demais, o que reflete a desigualdade no país. Até 31 de março de 2022, enquanto as regiões Sul e Sudeste possuem, respectivamente, 78,16% e 82,67% de vacinados, a região Norte apresenta 58,22%”

O levantamento mostra que os maiores esforços de vacinação devem ser feitos entre os mais jovens, principalmente os menores de 19 anos. Enquanto temos uma média de 1,07 doses aplicadas na faixa de 5 a 11 anos e 1,35 doses de 12 a 19 anos, as faixas a partir de 20 anos partem de uma média de 1,99 doses.

Um outro recorte do estudo constata a hesitação à vacinação infantil, e confirma que está potencialmente relacionada com propagação de fake news em redes sociais. 

ACHADOS SOBRE O IMPACTO DA VACINAÇÃO EM MASSA EM SERRANA (SP)

A partir de método econométrico conhecido como Controle Sintético, foi realizado um estudo de caso sobre o impacto da implementação do Projeto S na cidade de Serrana, no Estado de São Paulo, o qual antecipou a vacinação em massa na cidade. Construiu-se uma “Serrana sintética” a partir da ponderação de variáveis relevantes de um conjunto de municípios similares à Serrana (SP) real, de modo a criar um cenário contrafactual em que não houve implementação do Projeto S.

Os resultados indicam que a vacinação em massa em Serrana (SP) foi responsável por uma queda considerável no número de óbitos da cidade, chegando a uma redução recorde de mais de 25 óbitos por 100 mil habitantes no mês de maio de 2021 (o equivalente a uma redução de 48% nos óbitos).

CONCLUSÕES: MEDIDAS PARA PREVENIR E MITIGAR OS EFEITOS DE POSSÍVEIS NOVOS SURTOS

Das muitas lições da pandemia, destacam-se: a necessidade de intensificação de campanhas de incentivo à vacinação em massa, ressaltando a importância da dose de reforço, investimento para o fortalecimento do SUS, esforços contínuos para divulgar evidências científicas em favor da vacinação e combate às fake news.

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