Conhecer, evitar, testar, tratar e eliminar a hepatite, com apoio de vacinas eficazes e seguras, é a melhor forma de preveni-la
O dia 28 de julho foi designado como “Dia Mundial de Luta Contra Hepatites Virais”, durante a 63° Assembleia Mundial da Saúde, realizada em 2010, em Genebra, na Suíça. A iniciativa reconhece o importante problema de saúde pública que representam as hepatites. A data faz um apelo mundial para uma resposta integral na luta contra as doenças hepáticas e, desde então, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) se mobilizam para unir esforços e estabelecer estratégias para combater a hepatite em níveis regional e global.
A mortalidade anual global por hepatite viral é comparável à do HIV, tuberculose ou malária e provavelmente excederá o número de vítimas dessas três doenças combinadas até 2040, sob o atual cenário. As hepatites são doenças causadas por vírus, responsáveis por elevados níveis de morbidades e mortalidade ao nível mundial. Estima-se que 57% dos casos de cirrose hepática e 78% dos casos de câncer primário de fígado sejam causados pelos vírus das hepatites B e C.
Para Evandro Sobroza de Mello, professor do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), representante da Sociedade Brasileira de Patologia, é importante ter uma data especial sobre o tema. “As hepatites virais são um grave problema de saúde pública tanto no Brasil quanto no mundo, especialmente quando estamos falando das hepatites B e C que podem progredir para complicações graves como a cirrose hepática e o câncer de fígado. A hepatite A, por sua vez, não leva a cirrose e câncer, mas pode levar a uma doença aguda muito grave com insuficiência hepática (falência aguda do fígado) em uma parcela dos casos”, salienta.
Entre as orientações para evitar o desenvolvimento da doença, o Dr. Mello observa que, no caso das hepatites A e hepatite B, a principal orientação é tomar as vacinas correspondentes, “São vacinas altamente eficazes e seguras, sendo que a gestação e a lactação não representam contra indicações para a imunização”, destaca. “Mas não existe vacina para a hepatite C”, diz. A prevenção da hepatite C está voltada predominantemente para o não compartilhamento de seringas e agulhas, objetos de uso pessoal e esterilização adequada de equipamentos e utensílios (especialmente em consultórios, manicures e tatuadores).
A médica hepatologista Dra. Mônica Viana, diretora da Sociedade Brasileira de Hepatologia e coordenadora da campanha Julho Amarelo da entidade, informa que a situação atual do Brasil em relação às vacinas contra as hepatites A e B é uma das melhores do mundo. “As crianças recebem as vacinas, garantida por lei, no primeiro dia de vida em todo o território nacional”, conta.
A médica explica que o foco de atenção da SBH nos últimos anos, principalmente nas campanhas, é direcionado às pessoas com 30, 40 anos ou mais, pois quando essas pessoas nasceram não existiam as vacinas no calendário anual de vacinação infantil. “O procedimento adotado nesses casos é fazer o teste nos pacientes dessa faixa etária e os que não estiverem protegidos ou contaminados são vacinados e, os pacientes que apresentam sinais da doença hepática, são encaminhados pelos médicos para tratamento especializado. As vacinas estão disponíveis em todos os postos de saúde no Brasil”, informa.
A Dra. Mônica Viana acrescenta que o trabalho em prol do Julho Amarelo na SBH vem sendo feito há 10 anos, por meio de uma parceria com o Instituto Brasileiro do Fígado (Ibrafig), através do canal de comunicação “tudosobrefígado”, e ajudado a disseminar as informações sobre a importância das vacinas e do tratamento para prevenir a cirrose e câncer no fígado.
Campanha para Eliminar as Hepatites Virais até 2030
Em 2019, a OPAS lançou uma iniciativa para eliminar mais de 30 doenças infecciosas em toda a América até 2030, incluindo as hepatites virais. Segundo a OPAS, cerca de 1 milhão de pessoas morrem por ano no mundo em decorrência das hepatites virais, com três milhões de novos infectados ao ano.
No Brasil, segundo o Ibrafig, cerca de 1 milhão de pessoas têm hepatites virais e que desconhecem ser portadoras desta doença, que é silenciosa e pode levar à cirrose e ao câncer de fígado. Juntas, as hepatites B e C respondem por cerca de 74% dos casos notificados de hepatites virais no país – sozinha, a hepatite C é responsável por mais de 76% das mortes das hepatites virais, no período de 2000 a 2018, segundo Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais 2020, o mais recente editado pelo governo brasileiro.
As vacinas para hepatite A e para hepatite B estão no calendário de vacinação infantil em nível nacional. O SUS disponibiliza a vacina para hepatite B nas unidades básicas de saúde para todas as pessoas, independentemente da idade. Todas as crianças devem ser vacinadas para hepatite A também. Em adultos a vacina para hepatite A está disponível no SUS em algumas situações especiais, como portadores de hepatopatias crônicas e pessoas vivendo com HIV, dentre outras.
Os imunizantes também estão disponíveis nas clínicas privadas de vacinação em todo o Brasil.