A pandemia do novo coronavírus mexeu com toda a estrutura das vacinações contra doenças previníveis no Brasil. Com receio de ser infectadas pela covid-19, as pessoas diminuíram a procura por postos de saúde e a cobertura vacinal é a mais baixa nos últimos seis anos no país.
Em contrapartida, quem tinha possibilidade financeira, buscou o setor privado para conseguir deixar a carteirinha de vacinação em dia. Mas, esse aumento de demanda fez com que as vacinas básicas ficassem em falta nas clínicas particulares.
Os imunizantes escassos são hepatite A, varicela, tetravalente (sarampo, cachumba, rubéola e varicela), hepatite B para adultos e pneumo 23. Geraldo Barbosa, presidente da ABCVac (Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas), explica que a previsão de suprimento é anual e essas doses não são muito procuradas no setor.
“A indústria trabalha com a previsibilidade de um ano. Como o mercado público está com adesão baixa, aumentou a demanda das clínicas privadas, por segurança. Estão em falta no setor privado, porque são vacinas que não têm muito giro, nem demanda por elas serem aplicadas gratuitamente no SUS. Usamos apenas para completar o esquema vacinal e agora estamos com a falta do insumo”, diz Barbosa.
Ele, ainda, acrescenta: “Estamos respondendo à insegurança que as pessoas têm de procurar o serviço público, por fazer confusão. Mas não tem risco ir até o posto e fazer a vacinação de rotina. Elas são aplicadas com todo o controle e em locais separados da vacina de covid”, ressalta ele.
Nos postos de vacinação do SUS (Sistema Único de Saúde), nenhum dos imunizantes do Calendário Nacional de Imunizações está em falta, segundo o Ministério da Saúde. De acordo com Barbosa, os estoques públicos ainda estão bons porque a cobertura vacinal está baixa. Porém, o panorama pode mudar com a volta das aulas e das atividades normais.
“Os esquemas vacinais estão muito atrasados. Nossa preocupação é quando voltar a demanda normal no setor público, tenhamos algum problema de suprimento no setor público. Como a demanda está baixa, a reposição acompanha a demanda. A preocupação é o descontrole na hora da normalidade”, alerta ele.
A expectativa é que as clínicas particulares voltem a ter estoques normais no mês de novembro, porque os laboratórios farmacêuticos vão antecipar as remessas de chegada no Brasil de insumos previstos para 2022.
Diferenças entre vacinas públicas e privadas
Muitos têm dúvidas sobre as diferenças e semelhanças entre os imunizantes aplicados pelo SUS e os das clínicas particulares. Quais são mais eficazes? O presidente da ABCVac afirma que a longo prazo ambos têm os mesmos efeitos.
“As vacinas do primeiro ano de vida têm uma diferença gritante entre o público e o privado, mas no final, de acordo com a cobertura vacinal, o resultado acaba sendo o mesmo. O benefício real é sobre eventos adversos. As nossas vacinas são menos reatogênicas e causam um benefício no momento da vacinação para a criança. As outras são basicamente as mesmas, não têm diferença nenhuma”, observa Barbosa.
O governo federal visa a imunização coletiva, enquanto as clínicas particulares têm um caráter de proteção individual. Quando a cobertura vacinal é alta, os efeitos são os mesmos, conforme explica Barbosa.
“As vacinas públicas demandam uma cobertura vacinal maior para funcionar. O serviço privado tem o caráter de proteção individual, não coletiva. Tem número de doses maior, esquema vacinal mais completo. As vacinas acabam tendo um resultado momentâneo maior. Mas com cobertura vacinal maior, o mercado público tem os mesmos resultados de proteção e eficácia das vacinas do privado. O problema é que estamos com baixa cobertura vacinal aí temos a diferença”, finaliza.