Uma vacina contra o Influenza recentemente desenvolvida para uma variante potencialmente pandêmica do vírus, a subunidade H5N1, demonstrou ser altamente imunogênica em adultos jovens e idosos. Em um estudo multicêntrico randomizado de fase 3, a vacina experimental resultou em altos títulos de inibição da hemoaglutinação em pacientes com idades entre 18 e 64 anos, bem como naqueles com 65 anos ou mais.
A vacina avaliada no estudo foi uma vacina com subunidade do vírus influenza H5N1, inativado, monovalente, obtido em cultura celular com adjuvante MF59, desenvolvida pela Seqirus Inc, dos Estados Unidos.
“Como outros vírus da influenza aviária, os vírus Influenza A (H5N1) circulam principalmente entre aves domésticas e selvagens e aves de criação, e normalmente não infectam humanos”, disse em um e-mail ao Medscape o chefe da divisão terapêutica, de pandemia e outras vacinas da Seqirus, Matthew Hohenboken.
“Por isso, a maioria da população não tem imunidade contra Influenza A (H5N1), então se o vírus se tornar transmissível de pessoa para pessoa, mantendo sua capacidade de causar a forma grave da doença, as consequências para a saúde pública podem ser sérias”, complementou.
O estudo foi publicado on-line em 23 de março no periódico Vaccines.
Duas faixas etárias
O estudo estratificou 3.196 participantes em duas faixas etárias, de 18 a 64 anos e de 65 anos ou mais. Cada grupo recebeu um dos três lotes de vacina aH5N1c produzidos consecutivamente e recebeu duas doses de vacina ou placebo com três semanas de intervalo no dia 1 e no dia 22. “Após a segunda vacinação, os indivíduos foram monitorados por 12 meses quanto à segurança, totalizando, aproximadamente, 13 meses de duração do estudo por pessoa”, observaram os autores.
Os parâmetros de imunogenicidade foram avaliados por ensaio de inibição de hemoaglutinação da vacina contra a cepa H5N1, de acordo com métodos-padrão. As razões das médias geométricas foram avaliadas no dia 22, dia 43 e dia 183, cada uma em comparação com o dia 1.
“Os outros objetivos primários do estudo foram determinar a consistência lote a lote em três lotes produzidos consecutivamente da vacina aH5N1c em termos de valor geométrico médio e cumprimento dos critérios do Center for Biologics Evaluation and Research (CBER) dos EUA para a porcentagem de participantes que atingem um título de anticorpos de inibição da hemoaglutinação ≥ 1:40”, afirmaram os pesquisadores.
No dia 43, o valor geométrico médio para cada um dos lotes de aH5N1c foi de 128,6 (intervalo de confiança, IC, de 95% de 118,9 a 139,1), 127,4 (IC 95% de 117,6 a 138,0) e 132,2 (IC 95% de 122,1 a 143,1). Os valores geométricos médios também aumentaram nos receptores da vacina, em comparação com o início do estudo, no dia 22 e três semanas após a primeira dose, com um aumento adicional no dia 43, três semanas após a segunda dose, novamente em ambas as faixas etárias.
Conforme avaliado pelas razões das médias geométricas, os aumentos foram maiores nos jovens receptores da vacina do que nos participantes com 65 anos de idade ou mais, como seria de esperar à luz da imunossenescência. Os critérios de imunogenicidade do Committee for Medicinal Products for Human Use da European Medicines Agency também foram atendidos no dia 43 em ambas as faixas etárias. Entre os critérios estão razões das médias geométricas, proporção de indivíduos com hemoaglutinação ≥ 1:40 e taxas de soroconversão.
No dia 43, quase 80% (IC 95% de 77,4% a 82,3%) dos participantes de 18 a 65 anos e 54% (IC 95% de 51% a 57%) daqueles com 65 anos ou mais haviam soroconvertido e atendido aos critérios apropriados para a idade do CBER para taxas de soroconversão. Os autores reconheceram que foi observado um declínio nos títulos de anticorpos seis meses após a imunização, mas esse declínio foi consistente com o observado em outros estudos de vacinação contra o H5N1.
A dor no local da injeção foi o evento adverso mais comum relatado por metade dos receptores da vacina, em comparação a aproximadamente 15% dos receptores de placebo, e foi mais comum entre os mais jovens do que entre os mais velhos.
“A maioria dos casos de dor notificados foi de intensidade leve ou moderada e foi resolvida em alguns dias após a vacinação”, ressaltaram os autores. “E a vacina aH5N1c foi segura, bem tolerada e mostrou ter um perfil de risco-benefício aceitável em geral.”
Capacidade de fabricação
Os autores enfatizaram que, no planejamento de preparação para pandemias, deve-se considerar a capacidade dos fabricantes de produzir uma vacina eficaz. “A fabricação de vacinas antigripais depende de ovos de galinha embrionados para produzir antígenos há mais de 50 anos”, apontaram. No entanto, durante um surto de influenza aviária patogênica, a quantidade e a qualidade dos ovos podem ser comprometidas.
Em vez disso, os fabricantes se concentraram no desenvolvimento de uma vacina anti-influenza pandêmica monovalente obtida de cultura celular e com adjuvante MF59, porque as culturas celulares não estão sujeitas às limitações potenciais da produção de vacinas à base de ovo. A fabricação baseada em células também pode tornar a produção mais rápida para atender às necessidades de uma população que enfrenta mais uma pandemia, observaram os autores. “É difícil prever onde os surtos podem ocorrer”, acrescentou Matthew.
Há um nível notável de vírus da influenza aviária A circulando entre aves selvagens e aves de criação, principalmente no Reino Unido, na Europa e na América do Norte, observou ele. O vírus também vem causando infecções humanas esporádicas desde 1997, principalmente na Ásia e no Egito.
“Além de estarmos preparados para dar uma resposta rápida com vacinas anti-influenza pandêmica de cepas compatíveis, podemos fornecer aos governos vacinas pré-pandêmicas (zoonóticas) para armazenamento, o que possibilitaria aos trabalhadores da linha de frente e/ou outros grupos prioritários, conforme definido pelas políticas de saúde pública nacionais, o acesso antecipado a uma vacina parcialmente compatível, além de também permitir aos governos implantar essas vacinas no momento de sua escolha”, enfatizou.
“E caso a Organização Mundial da Saúde (OMS) declare este vírus como uma pandemia, a Seqirus mobilizará a produção de nossas vacinas pandêmicas registradas nas unidades fabris nos Estados Unidos, no Reino Unido e na Austrália”, prometeu Matthew.
Preparando-se para uma possível pandemia de H5N1
Convidado pelo Medscape a comentar o estudo, o Dr. Gregory Poland, médico e professor de medicina e infectologia da Mayo Clinic, nos EUA, e diretor do Mayo Vaccine Research Group, observou que havia preocupação em 2009 com a possibilidade de uma pandemia de influenza H5N1, então as vacinas contra o influenza H5N1 foram desenvolvidas naquela época. “O problema era que elas não eram muito imunogênicas”, disse ele.
Ao adicionar o adjuvante MF59 – já demonstrado como altamente imunogênico em outra vacina contra o Influenza (Fluad) em bebês e adultos mais velhos – foram obtidas respostas imunitárias mais robustas, observou o médico. “Incentivados pela pandemia de covid-19, agora percebemos que o que precisamos é uma biblioteca de vacinas disponíveis contra vírus com potencial pandêmico, no caso de uma pandemia; então, esta é uma medida prudente”, disse o Dr. Gregory.
Tradicionalmente, os livros ficavam na biblioteca por anos até que alguém precisasse deles. Se, por outro lado, uma pessoa tivesse que encomendar um livro de algum repositório central quando precisasse, “não seria muito útil ou eficaz”, observou ele. “Talvez não seja uma boa analogia”, disse.
“Mas a ideia é que precisamos ter uma biblioteca de plataformas de vacinas e vacinas reais que possamos fabricar rapidamente no caso de necessidade”, enfatizou.
O vírus Influenza H5N1 é uma potencial ameaça pandêmica porque é um novo antígeno para contra o qual nós humanos não temos imunidade.
O estudo recebeu apoio da Novartis Vaccines and Diagnostics Inc. James Peterson recebeu remuneração pelo estudo paga a sua instituição pela Seqirus, Inc. Vários autores são empregados da Seqirus. O Dr. Gregory Poland informou que atua como consultor para todos os fabricantes de vacina contra covid-19 e influenza do ocidente.
Texto originalmente publicado no https://portugues.medscape.com/verartigo/6507792