A chikungunya é uma arbovirose que causa febre e dor articular intensa. O quadro pode ser altamente debilitante e, em cerca de 40% dos casos, os sintomas persistem por meses ou até anos. [1]A letalidade associada à doença é superior à observada na dengue. O desenvolvimento de uma vacina seria de grande utilidade para a saúde pública.

Na segunda-feira (12), o periódico The Lancet publicou o primeiro estudo de fase 3, duplo-cego, multicêntrico, randomizado e controlado por placebo a avaliar um imunizante contra a chikungunya. [2] Trata-se da vacina de vírus atenuado de dose única VLA1553, produzida pela farmacêutica Valneva. O estudo foi realizado com 4.128 voluntários maiores de 18 anos. Os participantes foram divididos em dois grupos etários: de 18 a 64 anos (n = 3.652) e a partir de 65 anos (n = 463).

O desfecho primário do estudo, que foi conduzido nos Estados Unidos, foi “a proporção de participantes com um nível soroprotetor de anticorpos contra o vírus chikungunya (definido como redução de 50% da placa em μPRNT) com titulação μPRNT50 de pelo menos 150 para participantes negativos na linha de base 28 dias após a vacinação”, de acordo com o artigo.

Os resultados principais indicam que a vacina é segura, bem tolerada e provoca uma boa resposta imunológica. A maioria dos eventos adversos foram moderados ou leves, apresentando um perfil de segurança semelhante ao de outras vacinas licenciadas produzidas com vírus atenuados.

Segundo o artigo, “a população por protocolo para análise de imunogenicidade foi composta de 362 participantes (266 no grupo VLA1553 e 96 no grupo placebo). Após a dose única, a VLA1553 induziu níveis soroprotetores de anticorpos neutralizantes em 263 (98,9%) dos 266 participantes do grupo VLA1553 (intervalo de confiança [IC] de 96,7 a 99,8; P < 0,0001) 28 dias após a vacinação, independentemente da idade.”

Há outro estudo de fase 3 avaliando a segurança e eficácia da VLA1553, com o mesmo desfecho primário, em adolescentes de 12 a 17 anos. [3] O estudo está sendo conduzido no Brasil pelo Instituto Butantan em parceria com a Valneva. Mais de 700 voluntários de diversas cidades brasileiras estão participando do estudo, e o recrutamento foi encerrado em fevereiro de 2023. Os resultados dessa nova pesquisa serão divulgados em breve. Além disso, também há um novo estudo de fase 3 programado para o segundo semestre de 2023 com crianças de 6 meses a 11 anos.

Se os dados confirmarem a segurança e a imunogenicidade em crianças e adolescentes, a vacina poderá ser utilizada por pessoas de todas as idades.

Uma vacina eficaz poderia prevenir casos de chikungunya, reduzindo a dor e o sofrimento associados à doença, além da transmissão do vírus e o ônus sobre os sistemas de saúde, e garantiria proteção contra futuros surtos. O público-alvo para uma vacina contra a chikungunya seria, em princípio, bastante amplo, incluindo populações que vivem em áreas endêmicas, viajantes que passarem por essas áreas e pessoas com alto risco de complicações — principalmente idosos e pessoas com comorbidades, como hipertensão e diabetes.

Em conclusão, os avanços significativos na pesquisa e desenvolvimento de uma vacina para a chikungunya apresentam perspectivas promissoras. Se a eficácia e a segurança forem confirmadas para todas as faixas etárias, teremos um instrumento valioso para combater esta doença viral debilitante. Essa vacina poderá prevenir surtos futuros e, consequentemente, aliviar a sobrecarga sobre os sistemas de saúde e oferecer proteção para populações vulneráveis, promovendo um grande impacto positivo na saúde pública global.

Publicado originalmente pelo Medscape Brasil

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