Melissa Palmieri, especialista em Vigilância em Saúde pelo Ministério da Saúde e Diretora da SBIm Regional SP, fez um overview dos últimos dois anos acerca do que o setor de saúde, em especial o de imunização, aprendeu com a pandemia
A pandemia provocou mudanças em transformações em todo setor de saúde, mas também trouxe importantes aprendizados, construindo um legado para o sistema da saúde, em especial para o setor de imunização, um dos protagonistas dessa crise sanitária. Visando pontuar essas lições e trazer contextualizações históricas, geopolíticas, de mudanças de comportamento e as inovações que devem ser consideradas para um olhar de futuro, que Melissa Palmieri, especialista em Vigilância em Saúde pelo Ministério da Saúde e Diretora da SBIm Regional SP, abriu o 5º Congresso Brasileiro de Clínicas de Vacinas (CCV), promovido pela Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas (ABCVAC).
Melissa começou relembrando que na história da humanidade houve pandemias letais, como a varíola, que matou 56 milhões de pessoas; e a própria COVID-19, que já vitimou mais 6,3 milhões. Em seguida, partiu para o contexto atual que reflete em todo o resultado e, principalmente, nas ações.
“No aspecto geopolítico, é importante ter uma manufatura aqui no nosso país, para podermos sobreviver às próximas pandemias. Precisamos entender que quando somos surpreendidos por um agente infeccioso é necessário definir uma estratégia a ser adotada. Os países mais bem sucedidos são aqueles que são sustentáveis e têm produtos à disposição, seja com manufatura nacional, obtidos por meio de parceiros ou importando de forma rápida. Sabemos qual a dificuldade quando impactamos o acesso de vacinas”, explica.
O cenário econômico desafiador também é um fator a ser observado. A inflação em alta e o desemprego impactaram no setor privado de vacinas e demandam uma reflexão do que precisa ser feito diante do encolhimento desse mercado, que precisa ser ampliado.
Segundo Melissa, existe um estudo encomendado pela Pfizer, mostrando que a cada R$ 1 investido com vacina, R$ 9 são economizados, provocando um aumento de PIB. “Vacinas são sim investimento e temos que continuar falando a respeito”, enfatiza.
Outra lição evidenciada durante o painel foi com relação à necessidade de uma mudança de comportamento. A sociedade desmistificou a necessidade da máscara e entendeu o poder do coletivismo. Por outro lado, as clínicas também tiveram que se adaptar e se reinventar. Caso, por exemplo, dos drive-thrus e do aumento da vacinação em domicílio. Aspectos esses que estão inclusive diretamente relacionados à relevância da inovação, que foi um legado importante da pandemia. Ela ocorreu não somente no uso de tecnologia como nas questões regulatórias, visando melhorar e agilizar os processos.
Além disso, ficou clara a necessidade da educação e da comunicação correta. O delay de acesso à informação foi minimizado, no entanto, as fake news mostraram-se prejudiciais ao combate de uma situação crítica como a vivenciada. “Vemos diariamente notícias banais sendo viralizadas e com milhares de visualizações. O que devemos fazer para isso acontecer com o tema vacinas? Temos um contingente grande de vacinados, mas também temos os antivascinistas”, provoca Melissa.
A especialista também ressaltou que isso não está sendo efetivo no Brasil, haja vista que a cobertura vacinal segue em queda. Ela alertou ainda que novas pandemias virão e é preciso estar preparado. Daí, inclusive, a importância de pensar nos locais menos abastados e isolados, afinal a segurança de todos depende da massificação da proteção.
“Nós saímos sim da zona conforto, mas o maior legado dessa pandemia foi mostrar a importância de estarmos unidos. As vacinas contra COVID são um sucesso. Mas, temos muitas pessoas a vacinar, com muitas vacinas. Mas, sabemos que as vacinas salvam vidas”, finaliza.