Imunizante da Moderna deve chegar ao mercado em 5 anos, revolucionando o setor, enquanto outras farmacêuticas promovem estudos para outras doenças; no Brasil, a inclusão da vacina contra HPV no calendário vacinal também foi um passo importante 

Vacinas para doenças crônicas não-transmissíveis como cânceres, doenças cardiovasculares e doenças autoimunes estão sendo estudadas pela farmacêutica Moderna. Foi o que disse Paul Burton, diretor médico da farmacêutica americana  com exclusividade ao jornal britânico The Guardian. A empresa é conhecida por ter criado uma das vacinas utilizadas no mundo contra o coronavírus. A molécula de mRNA (RNA mensageiro) será usada como foi feito para o combate à pandemia de covid-19. Em janeiro deste ano foi apresentada a vacina para doenças respiratórias e em fevereiro, contra o câncer. Todas aprovadas previamente pelos órgãos reguladores locais.

Paul Burton, diretor médico da farmacêutica, explicou, em reportagem divulgada em 8 de abril deste ano, que as terapias baseadas no mRNA funcionam ensinando as células a produzir uma proteína que desencadeia a resposta imune do corpo contra doenças de forma customizada. A tecnologia, segundo ele contou à matéria, promete atacar doenças raras para as quais atualmente não existem, nem mesmo, medicamentos. A ideia é que qualquer doença seja capaz de ser prevenida por meio de vacina em até cinco anos.

A FDA (A Food and Drug Administration é uma agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos) análoga a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), concedeu, para o estudo de vacina contra doenças respiratórias e câncer, especificamente de pele, a designação de terapia inovadora da vacina, o que significa que sua revisão regulatória será acelerada. No caso de doenças respiratórias, a eficácia comprovada foi de pouco mais de 80% em pelo menos dois sintomas, como tosse e febre, em adultos com 60 anos ou mais. 

O processo seria assim: primeiro, os médicos fazem uma biópsia do tumor de um paciente e o enviam para um laboratório, onde seu material genético é sequenciado por meio de tecnologia avançada para identificar mutações que não estão presentes nas células saudáveis. Com o tempo, o sistema também aprende quais partes das proteínas anormais que essas mutações codificam têm maior probabilidade de desencadear uma resposta imune. Em seguida, os mRNAs para os antígenos mais promissores são fabricados e embalados em uma vacina personalizada. Ele não explicou como seria uma comercialização em massa.

Porém, investimentos em pesquisas precisam ser mantidos em todos os casos. Os Estados Unidos é uma das nações que lideram a injeção financeira para pesquisa e desenvolvimento. 

Outras farmacêuticas na corrida da vacina

A Pfizer também iniciou o recrutamento para um ensaio clínico em estágio avançado de uma vacina contra influenza baseada em mRNA e está de olho em outras doenças infecciosas, incluindo herpes zoster, em colaboração com a BioNTech. 

“A atualização rápida das formulações de vacinas é uma das versatilidades proporcionadas pela plataforma de mRNA. Acreditamos no potencial da tecnologia de impactar de forma transformadora a saúde global e, por isso, desenvolvemos uma estratégia robusta de mRNA. Para além da área de vacinas, o mRNA se coloca como uma tecnologia multifacetada, com possíveis aplicações em várias doenças infecciosas, câncer, doenças raras ou doenças autoimunes. Por isso, planejamos continuar investindo na plataforma em diferentes áreas terapêuticas e também reforçamos nosso compromisso em desenvolver vacinas em diferentes tecnologias com objetivo de trazer um maior espectro de proteção para a população ou imunizar contra doenças que hoje não possuem vacinas, como é o caso do nosso pipeline para doenças pneumocócicas e para vírus sincicial respiratório”, destaca Adriana Ribeiro, diretora médica da Pfizer Brasil.

Outras tecnologias de vacinas também se beneficiaram da pandemia, incluindo vacinas baseadas em proteínas de última geração, como a Covid jab produzida pela empresa de biotecnologia Novavax – todas americanas. 

O Brasil também desponta como importante agente imunizador de sua população por meio do Programa Nacional de Imunizações (PNI), vinculado ao Ministério da Saúde, e por meio das clínicas particulares, que oferecem, também, diversas vacinas e contribuem para que o Brasil seja referência no tema. 

Em 2014, o a pasta adquiriu a vacina quadrivalente papilomavírus humano (HPV) por meio da produção nacional resultado da parceria para transferência de tecnologia entre o laboratório público nacional Instituto Butantan e o laboratório privado americano Merck Sharp & Dohme (MSD Brasil), detentor da tecnologia. A oferta do imunizante representou uma revolução para prevenção de câncer. Dados do Ministério da Saúde estimam que haja entre 9 e 10 milhões de pessoas infectadas pelo HPV no Brasil e que surjam 700 mil novos casos de infecção por ano. 

Para a Dra. Márcia Datz Abadi, diretora médica da MSD Brasil, a vacinação, juntamente com o exame Papanicolau, contribui para a prevenção do câncer de colo de útero por meio do diagnóstico precoce. “Em um país de dimensões continentais como o Brasil, onde o acesso a exames preventivos ainda é difícil fora dos grandes centros, incentivar a vacinação é nossa melhor estratégia para, no médio-longo prazo, reduzir os casos e óbitos relacionados ao câncer de colo de útero”, reforça.

Uma variação do imunizante disponível na rede suplementar, oferece proteção contra nove subtipos do vírus – cinco a mais que a aplicada atualmente no Sistema Único de Saúde – o SUS usa tipos mais comuns e que representam problemas de saúde pública. Consulte a indicação etária.

Qualquer vacina, para entrada no Brasil, precisa preencher requisitos próprios da Anvisa e, a depender do valor, podem ou não ser compradas pelo governo federal se este entender que se trata ou não de problema de Saúde pública. Já nas clínicas privadas, as vacinas, depois de passar pela mesma inspeção, podem usar verbas próprias de mercado para adquirir o imunizante e oferecer ao público. 

Segundo números de 2018 da Organização Mundial de Saúde (OMS), que orienta as nações quanto às ações sobre o tema, o câncer é uma das principais causas de morte no mundo, sendo os principais tipos pulmão e mama. No Brasil não é diferente.

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