Abril Verde faz alusão à prevenção de acidentes de trabalho; serviços de vacinação privados  devem estar atentos aos acidentes com perfurocortantes

Administração e descarte de insumos devem ser feitos de forma adequada; capacitação constantes e treinamento para utilização de seringas com proteção devem ser adotados para evitar contaminação

Neste mês é comemorado o Abril Verde, data que faz alusão à prevenção de acidentes de trabalho. Não seria diferente com os serviços de vacinação privados, onde os colaboradores diretos e indiretos entram em contato com diversas rotinas que podem causar danos à sua saúde. O Brasil registrou, em 2022, 612,9 mil notificações de acidentes de trabalho. O número de óbitos provocados por esses acidentes chegou a 2,5 mil. A atividade de atendimento hospitalar é o setor com maior número de notificações, que chegam a mais de 59 mil casos. Técnicos de enfermagem foram os profissionais mais acidentados, com 36 mil casos. Os dados são do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho.

A enfermeira Mayra Moura, diretora da Capacita Imune, instituição que orienta sobre procedimentos adequados em clínicas de vacinação, comenta que é imprescindível uma série de cuidados para evitar acidentes nas salas de vacinação, principalmente com os perfurocortantes, que podem transmitir mais de 20 tipos de patógenos diferentes. “É preciso haver capacitação, treinamento e acompanhamento contínuo dos profissionais de Saúde que atuam na linha de frente da vacinação, os vacinadores.” 

Ela alerta sobre os danos que a perfuração por seringas pode causar. “Esse tipo de acidente é capaz de transmitir doenças do paciente ao acidentado, inclusive hepatites e HIV.” Nesses casos, seja em clínicas particulares, seja no Sistema Público de Saúde, um protocolo deve ser acionado para o cuidado desse colaborador. “É aberto um CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho), depois é resgatado o estado de Saúde da pessoa onde a seringa havia sido introduzida e encaminhamos o profissional acidentado para unidade de Saúde de referência para tratamentos como profilaxias contra doenças sexualmente transmissíveis”, explica Mayra.

Segundo a profissional, além da permanente capacitação e correção de possíveis erros, os protocolos de prevenção e cuidado laboral envolvem a organização de toda a infraestrutura da sala de vacinação, que deve estar preparada, desde o estoque do insumo, da escolha do suporte das seringas, até o manejo e descarte de lixos contaminantes. Avisos indicativos também ajudam nessa meta de evitar acidentes. “As melhores clínicas do ramo funcionam sob rígidas regras de proteção aos colaboradores”, completa.

“A Norma Regulamentadora (NR) 32 tem como finalidade estabelecer as diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores dos serviços de saúde. E orientamos que as indicações sejam seguidas”, diz Mayra.

Quando os protocolos não são seguidos, comenta a diretora, os acidentes se tornam mais frequentes. Ela comenta a ocorrência, inclusive, de acidentes com pessoal da limpeza que retiram os lixos. “Já houve perfuração com a agulha”, conta. Ela se refere ao descarte incorreto das seringas, das ampolas, dos curativos e todo o insumo que a clínica usa para vacinar. “Se uma parte da cadeia de protocolos para a prevenção aos acidentes se quebra, eventos como o descrito podem acontecer com o vacinador, com colaboradores de outros setores e, inclusive, serviços de coleta pública.”

Ela destaca, ainda, como alternativa protetiva, o uso das seringas com dispositivos de segurança, que contém uma capa na agulha, que fecha depois do uso, o que acaba sendo mais uma forma de proteção para os profissionais vacinadores e os que administram os lixos dentro das clínicas e fora delas. A diretora reafirma a capacitação dos profissionais nesses casos. “Dentro das clínicas, muitas vezes existem pessoas que atuam há muito tempo sem esse dispositivo de segurança, por exemplo, e, quando recebem um insumo assim, relatam que ele atrapalha e quebram a proteção.” 

A proteção proporcionada por esses dispositivos diminui riscos quando a seringa é posicionada em superfície depois do manuseio e aplicação da vacina, uma vez que o material perfurante pode cair ou ser manuseado, por engano, por alguma criança na sala em casos de falha na supervisão. “Não é recomendado a presença de muitas pessoas na sala para que o profissional esteja focado em seu trabalho e para que acidentes sejam evitados”, comenta Mayra. 

Segundo relata, o vacinador ainda tem o papel de acalmar e proporcionar um momento tranquilo para quem se vacinar, o que pode ser um ponto de vulnerabilidade para perda de atenção em algum ponto da cadeia de prevenção à acidentes: manuseio correto da seringa e outros insumos, descarte correto, posicionamento correto depois da injeção, por exemplo.