Crescem oportunidades no mercado de vacinas

Novos players no mercado, surgimento de doenças e envelhecimento da população brasileira são apontados como principais fatores para maior desenvolvimento do segmento

O mercado de vacinas tende a apresentar uma grande variedade de novos produtos nos próximos anos, segundo o diretor sênior de Soluções Hospitalares LATAM da IQVIA, Marcelo Meletti. E muito dessa nova oferta inclui doenças raras. Em apresentação durante encontro da Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas (ABCVAC), o executivo indicou que 17 enfermidades estão com vacinas em situação de análise pré-clínica. 

Dentre as doenças listadas estão Alzheimer, chikungunya, covid, dengue, diabetes, doenças onco-hemato, enfermidades respiratórias, hepatite B, herpes, HIV, HPV, infecção bacteriana, infecção viral, influenza, meningite, tuberculose e zika. Já em pré-registro, a relação contempla chikungunya, coqueluche, covid, difteria, meningite, poliomielite e tétano. 

E se depender da população brasileira, o segmento continuará tendo relevante ascensão. A pesquisa “Percepção da Vacinação pela População Brasileira: (Pesquisa IQVIA 2022)” entrevistou 988 pessoas e clientes, dos quais 81% acredita que “a vacinação é uma das formas mais importantes e eficientes de prevenção de doenças”; 69% dos participantes revelam que “Pandemia de covid-19 valorizou ainda mais as vacinas” e 61% afirma que “não penso em poupar dinheiro quando se trata da vacinação dos meus filhos”.

Ainda conforme o levantamento da IQVIA, dos quase mil entrevistados, 54% revela ter “mais cuidado com a vacinação dos meus filhos do que com a minha própria vacinação”; 45% dizem que “quando o médico prescreve uma vacina para os meus filhos, independente da marca do fabricante” e 29% dos participantes assume não ter medo dos eventos adversos da vacina. 

Mercado brasileiro

Meletti revela que o segmento farmacêutico totalizou R$190 bilhões em 12 meses no período de agosto de 2022 e agosto de 2023, sendo quase 9% composto por vacinas, entretanto ressalta que o mercado total registrou retração em decorrência da vacina da Covid e de outras vacinas aplicadas pelo governo. Ainda assim, o setor  privado alcançou seu melhor desempenho nos últimos cinco anos. “O mercado teve um crescimento versus o ano passado de mais de 40%”, aponta. 

Geograficamente falando, esse crescimento do setor privado foi pulverizado, superando dois dígitos em vários estados: dos R$1,4 bilhões, aproximadamente um terço do que se vende em reais de vacinas está no estado de São Paulo (R$ 478.948 mi), seguido por Minas Gerais (175.470 mi) e Rio de Janeiro (126.402 mi). A região Sul ocupa da quarta à sexta posição: RS (90.570), PR (90.387 mi) e SC (71.246 mi). O estado com menor demanda é o Amapá (873 mi).

O executivo indica que o mercado brasileiro de vacinas crescerá de maneira sustentável baseado em, como o profissional classifica, “relevantes alavancas”. “A população está envelhecendo. Vemos o Brasil nos próximos 15 ou 20 anos se aproximando da população europeia”, compara Meletti. E esse avanço da idade promove um maior conhecimento do calendário vacinal para idosos; uma conscientização também resultado do destaque que a Saúde ganhou durante a pandemia.

Com esse cenário há novos entrantes no mercado, novos grupos de compra (como Médias Empresas, Escolas e Condomínios) e, consequentemente, novos formatos de comercialização: clínicas de vacinação em shoppings, estações de metrô e em clínicas populares, por exemplo; franquias e farmácias, além de planos de saúde que buscam aprimorar seus modelos de prevenção. 

“As clínicas apresentam tendência de ampliação, mas de forma desacelerada, dando sinais de acomodação. , explica Meletti. Entretanto, o serviço de vacinas em farmácia ainda não é considerado uma opção por uma parcela relevante dos pacientes/consumidores, segundo o diretor. 

Outros dois canais têm se apresentado como opções de vacinação, laboratórios de análises clínicas e serviços de home care. Meletti explica ainda que a relevância dos canais muda conforme a vacina analisada, mas clínicas se mantém como o mais relevante no geral: clínicas de imunização lideram como as mais procuradas nos casos de Meningocócicas, Pneumocócicas, Rotavírus, Hepatite, Tetânica e Febre Amarela. 

Mas esse índice muda quando se fala em Influenza e Herpes Zoster. No primeiro caso, as clínicas de imunização respondem por 32,1% da procura, mas 22,5% e 22,2% são apresentadas na pesquisa IQVIA Hospital Maping como “empresas/associações” e “outros”, respectivamente. No caso da Herpes Zoster, clínicas de imunização atendem por 36% dessa busca e 29,2% provém de laboratórios de análises clínicas. 

Já no caso de vacinas para HPV há uma divisão percentual no qual as clínicas de imunização respondem por 37,8% enquanto laboratórios de análises clínicas são responsáveis por 36,7% da procura. “Novos canais de comercialização podem ser uma oportunidade de curto-prazo para expansão dos negócios. Entender potenciais pagadores pode ser uma forma de gerar novo fluxo de pacientes”, aponta Meletti. 

Oportunidades e desafios

Se por muito tempo, culturalmente, a população acreditou que as vacinas são só para crianças, a tendência populacional confronta esta visão, observando a Pirâmide Etária Evolução e Expectativa – Brasil é possível notar 33 milhões de idosos em 2023, logo, uma maior expectativa de vida e menor mortalidade; e atualmente, menos de 40% dos brasileiros são jovens, e mais de 10% são idosos. E aqui vale ressaltar que globalmente, a influenza e a Tríplice bacteriana são as mais demandadas pelo público adulto e acima de 60 anos. 

“Entender e acompanhar a evolução dos pacientes, pode gerar maior adesão ao tratamento e conhecer o fluxo de pacientes é importante para dimensionar oportunidades e reforçar ações de promoção”, ensina o diretor que indica a visitação médica como uma ação de relacionamento crítica para expandir o entendimento e oportunidades na área de atuação, assim como entender o perfil prescritivo dos médicos da sua região é crítico para o sucesso na visitação ou recepção dos pacientes.

Entretanto, ainda que o Brasil disponha do Programa Nacional de Imunizações (PNI), 38 mil salas de vacinação e infraestrutura produtiva via laboratórios oficiais como Butantan e Fiocruz, há desafios. Mesmo que o orçamento estimado em mais de R$3,3 bilhões/ano, esse fundo não sofre aumentos, deixando de acompanhar a demanda existente Apesar do redirecionamento, o PLOA 2023 apresenta-se limitado frente aos desafios que enfrentamos na área pública.

Assim, vacinas, mesmo com o avanço do privado, ainda se encontram dependentes da demanda do setor público, impactando a cobertura vacinal. A isso se aliam fatores como aumento da preocupação com a segurança e confiabilidade das vacinas; desinformação quanto ao calendário vacinal geral; menor comunicação das campanhas pelo Governo (que investe menos em campanhas a cada ano) e excesso de confiança, uma vez que muitas patologias foram erradicadas.